mercredi, août 08, 2007

Aquele texto que eu falei

que lí e adorei:
tirei de uma daquelas revistas fúteis de mulher que, depois dessa, ví que não são tão fúteis assim.

Carta ao Sono, de Fernanda Young
"Ontem, mais uma vez, esperei você por horas e você não veio. Hoje, passei a manhã inteira irritada por causa disso. Aí, você me aparece depois do almoço, sem a menor explicação, como se isso fosse normal. Eu cheia de coisas pra fazer e você querendo me levar pra tomar um café. Está querendo acabar comigo, é isso?
Uma amiga veio me abrir os olhos: nós estamos vivendo uma relação doentia. Eu estou me sujeitando aos seus horários e você está desrespeitando meus limites. Não e porque eu vou para a cama com você que eu deixei de chefiar o órgão onde você exerce a sua função.
Você tem faltado muito, e eu estou cansada disso. Quando não falta, demora a chegar e vem disperso, agitado, não ajudando em nada. Eu preciso de você tranqüilo, cumprindo seu dever, todos os dias, oito horas por dia, igual a todo mundo. Ou não posso garantir o bom funcionamento da nossa unidade.
Sono, sinceramente, qualquer probleminha que surge, você some. Tudo serve de desculpa para você não aparecer: uma conta para pagar, uma viagem de negócios, um caso de doença na família. Por mais que eu não queira te prejudicar, não posso agüentar um sono assim, tão inconstante.
A partir desta noite, não quero mais nenhuma irregularidade sua. Não estou exigindo que você seja perfeito, mas, na próxima vez que eu tiver de remediar alguma ausência sua, vou tomar medidas extremamente fortes. E não me importam as reações. Desejo uma convivência leve e sadia entre nós, mas prefiro ter você sempre pesado do que sofrer as conseqüências da atual situação.
Não posso entender porque você mudou tanto. Lembro das agradáveis noites que passamos juntos - você, eventualmente profundo, muitas vezes superficial, mas sempre presente em minha vida. Mesmo durante o dia, você dava um jeito de estar ao meu lado quando eu estava deprimida, de cuidar de mim quando eu ficava com febre, de aliviar meu stress quando eu trabalhava demais.
Agora, quase nunca posso contar com você. Você só aparece quando bem quer e quando eu menos preciso: num cinema, numa festa, num restaurante. Sua presença, antes tão gratificante, ultimamente só serve pra me atrapalhar.
Você jamais consegue estar comigo nas horas importantes, tem sempre algo complicado impedindo-o de chegar; mas sei de outras mulheres que dormem com você sem a menor dificuldade. Liguei pra uma colega minha, noite dessas, pra reclamar de mais uma das suas fugidas, e ela teve o desplante de dizer que não podia falar comigo porque estava na cama com você.
Enfim, estou com olheiras, e é por sua culpa. Mas sei que necessito dos seus serviços, então lhe dou este ultimato. Ou você toma jeito e volta a me deixar em paz, ou você afunda junto comigo".
(Fernanda Young é escritora, jornalista, apresentadora de tv, e sabe das coisas).

Aucun commentaire: