mardi, août 07, 2007

Anônimos.

_"Você é aquele lutador famoso, não é?" perguntava incessantemente o moço naquela sexta feira, na mesa do bar. Cismou com aquilo, coitado. Que o Pedro era lutador, e só estava negando porque lutadores campeões mundiais e famosos não podem revelar jamais sua verdadeira identidade.
Fora a inconveniência deste senhor (que, depois de pedir autógrafo pro garoto, me pediu um cigarro e um gole da nossa cerveja), o devaneio dele até que nos rendeu uma história e boas risadas.

Mas devo admitir que ele não estava, assim, tão errado não.

Não que Pedro seja um grande lutador - até porque não é (ou talvez até seja e tenha mentido pra gente - isso nunca iremos saber, né). Ele tinha toda razão quando falou sobre esconder sua verdadeira identidade.
Fazemos isso o tempo todo. Todos, na rua, fazem isso o tempo todo. Não sei se é pra passar despercebido aos olhos dos meros mortais e evitar o assédio, mas o fato é que somos verdadeiros artistas escondidos atrás dos nossos cartões de visitas habituais ("Oi,meunomeéanapaula,souestudantedeletraserelaçõesinternacionais,tenho18anos, prazer.), eu até diria super-heróis, verdadeiros super-homens fantasiados de Clark Kent.
Só nós sabemos do que somos capazes de fazer por baixo dos panos, ou naquela fração de segundo do piscar dos olhos de alguma pessoa: momentos mágicos e intermináveis em câmera lenta, mas ninguém viu, só você (ou talvez nem a gente tenha noção do que realmente somos capazes de fazer).
Nem mesmo sabemos o que um dia poderemos vir a ser. Vai que a Júlia (que naquele dia não passou de "esposa do lutador famoso") se case com o Minotouro (medalhista no Pan em vale-tudo - quer dizer, ACHO que foi medalhista, mas whatever) e vire de fato a "esposa do lutador famoso", ou vai que ela vire uma cineasta, escritora, e jornalista famosa (talento pra ser não lhe falta). Digo que só não virei estrela ainda porque a Globo não me achou e porque Almodóvar e Woody Allen ainda não me conhecem (AINDA!).
Brincadeiras à parte, eu conheço diversos desses super-heróis cotidianos disfarçados. Minha mãe é um deles. Trabalha de segunda à sexta, acordando às 5 da manhã, em dois hospitais e dando aula em 3 faculdades, fora as provas que tem que corrigir, os alunos e os pacientes que tem que aturar, dá supervisão de estágio em fisioterapia e concluiu o mestrado a pouco tempo, chega em casa às 11 da noite, ainda se dá o luxo de jantar bem, ver televisão e preparar as aulas do dia seguinte, que repetirá essa rotina tooooda denovo. Fora que é mãe e dona de casa nos horários vagos, tira o fim de semana pra fazer faxina e se preocupar com os problemas de dois filhos e um marido problemático, e JAMAIS abre mão de sair pra beber com os amigos na sexta feira. Tenho sérias dúvidas se minha mãe é daqui ou é de Kripton. Ela merecia Oscar, Prêmios Nobel, e ganhar muito dinheiro de salário no final do mês, mas prefere viver apenas como uma anônima (eu acho até melhor porque ela - nem eu - saberia lidar com o assédio dos fãs). "Oi, quem é você?" "Sou Ana Therezinha, mãe e fisioterapeuta, só" (SÓ?). E fala isso com o maior sorrisão no rosto.
Um dia ainda vou ser tudo aquilo que sou e que quero ser e acredito que ninguém vai me parar num bar e me pedir um autógrafo - embora tenha a certeza que um cigarro e um gole da cerveja vão sempre me pedir.

Antes eu achava que tudo na vida precisava de reconhecimento. Hoje, já penso que reconhecimento não é, assim, TÃO necessário: mais importante ainda é a SATISFAÇÃO de um trabalho bem feito. Saber que você deu o seu melhor, e fez a sua parte para que o mundo inteiro achasse que foi uma coisa banal.
Enquanto isso, o Clark Kent salva o planeta todos os dias. Enquanto isso, minha mãe salva uma porrada de vidas. Enquanto isso, Pedro vai ganhando suas lutas de vale-tudo. Enquanto isso, milhares de anônimos no Brasil e no mundo vão fazendo sua arte e sua parte, enquanto você tá sentado no computador, sem, teoricamente, ter mais o que fazer, lendo esse texto. Mas disso ninguém precisa saber, né?







notas:
- Quando eu for diplomata e salvar o mundo da fome, não vou ligar se vocês quiserem me mandar um cartãozinho postal lá pra França me parabenizando, pelo contrário, vou adorar! :D
- Jú, espero que você leia essa besteirinha e LEMBRE que eu ADORO sair com vocês: SEMPRE dá numa boa história!
- Meu amigo conhece o Minotouro, gente (UAU! Ó NÓSSA!)!! HUAHUAHAUH http://www.orkut.com/AlbumZoom.aspx?uid=12788948304263602357&pid=4
- Depois dessa, virem fãs anônimos da minha mãe, porque ela é foda, mas não a assediem, por favor, ela não sabe MESMO lidar com fãs (eu sei disso, sou fã dela!)! ;)
- E tem gente que ainda achava que eu faço coisa pra caramba.. Enquanto tava todo mundo fazendo alguma coisa de útil, eu tava aqui, sentada, como se não tivesse mais o que fazer, escrevendo esse texto! HUAHUAHAUH

1 commentaire:

Anonyme a dit…

Poxa, escrevi um texto gigante e não foi..
Bom, vou resumir aqui! Não pense que por estar sentada nesse computador você não está fazendo nada de útil, um dos seus dons de super-heroína é esse mesmo: salvar o dia das pessoas com textos tão fantásticos, como esse.
Quanto à sua mãe, acho que para nos tornarmos uma, passamos por um teste de qualificação, no qual ganhamos poderes sobrenaturais de fazermos TUDO e com muito êxito.
Obrigada por salvar meu dia, Ana.
Beijos!