mercredi, octobre 10, 2007

Momento Tia Ana Pasquale

Como muitos já sabem (ou não), o português que a tia da alfabetização nos ensinou vai mudar. Serão alterações relativamente pequenas (cerca de 0,5 a 2% do vocabulário será modificado) comparado à imensidão que é o nosso idioma. E justamente por causa disso é que eu acho que essa reformulação da língua é, digamos assim, muito idiota.

Ou a CPLP (Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa) está muito chateada com o fato de, no papel, ninguém se entender ou eles realmente não tinham mais nada pra fazer, só agora viram que o português é um só e resolveram unificar a gramática. Uma língua leva gerações e gerações para ser construida pelo senso comum de uma sociedade, se tornar identidade cultural e... e aí vem alguem e passa a borracha.

Ainda não tem uma data certa, mas a previsão é que, a partir do ano que vem, sejam implantadas as mudanças gramaticais na língua portuguesa, com a justificativa de aproximar os países que falam português (Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé e Principe, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Timor Leste).

Tá, nesse ponto eu tenho que concordar: nós, brasileiros, raramente conseguimos entender e nos comunicar (SEM RIR) com um típico português. No Bennett, por exemplo, há um número considerável de angolanos e geralmente tenho que me esforçar bastante pra entender o que eles querem dizer. É meio que um absurdo, paises-irmãos com tantas coisas em comum sejam incapazes de "falar a mesma língua". Mas, sinceramente, não acho que tirar o acento da "idéia" vá resolver o problema.

As desculpas são justas, mas a solução é pouquíssimo prática, e este tema tem causado tanta discussão que só falta virar motivo para separação de casamento. Eu, que nem gosto de discutir, não poderia ficar de fora. Outro dia, no meio de uma aula nada(-)a(-)ver de Política Internacional, caimos no assunto e começou o bafafá. O professor defendia com unhas e dentes que a reforma é hiper(-)necessária, porque, embora o português seja a terceira língua ocidental mais falada no mundo, um gringo que mexa com assuntos internacionais tem que aprender um português de Portugal e o português brasileiro, assim como livros estrangeiros tem que ser traduzidos para as duas "línguas diferentes", e isso dá muito trabalho, corríamos até o risco de desaparecer enquanto língua internacional. (Tá, você deve estar se perguntando: "e eu com isso?") _"Não sei quanto a você, mas acontece que eu não estou nem um pouco afim de chamar fila de 'bicha' ou ter de ir à padaria comprar um 'cacetinho' ".

Estas mudanças serão apenas ortográficas e não vão dar tanta dor de cabeça assim. Dentre as várias alterações estão:



  • A extinção da trema (essa daí até dá pra agu(ü)entar... não precisa mais ter duvidas de quando usa-la ou não), e de alguns acentos diferenciais (a frase "pára de ser péla, porra!", por exemplo, virará "para de ser pela, porra!" e perderá completamente a emoção);
  • Não há mais "vôo" com "enjôo". O acento circunflexo em situações assim foi enterrado. Vovô morreu de desuso, e foi enterrado seu chapeuzinho junto.
  • Perde-se o hífem em certas situações, nem eu vou mais poder usa-lo. Nem o "contra(-/r)regra" (que agora é junto).
  • Depois de muita discussão infantil no "adoleta", finalmente o K Y e o W entram oficialmente para o alfabeto, que agora possui 26 membros.
  • "Idéia", "jibóia", "assembléia" e até mesmo o coitado do "Araribóia" perdem o acento.

Moral da Histo(ó)ria: Baboseira pura. "Coisa de português" mesmo. A gramática fica mais enxuta, mas na verdade nada muda: continuaremos sem nos entender com angolanos ou portugueses direito. Mal entendemos o sotaque nordestino. E os países da CPLP tem tanto analfabetismo que pouca gente vai ligar para esta reforma ortográfica. Não sei dos outros, não conheço ninguem de Cabo Verde ou Timor Leste mas imagino que a situação seja a mesma. E ainda nem tá tudo certo, porque países como Portugal, por exemplo, estão resistindo em ratificar o acordo para não perder o "c" antes de "acto" ou o "p" antes de "óptimo". O grande problema é que, daqui a uns 2 ou 3 anos, os textos do meu blog estarão com "cara de coisa do século passado"

Bom para as crianças de agora, que não sofrerão tanto (como eu sofrí na época) para decorar a gramática, e já podem hoje fazer uma prova de português inteira sem pôr acento em nada. Quando vier a nota baixa no resultado, podem argumentar dizendo que já estão se adequando às mudanças ortográficas de 2008, e preferem não fazer confusão. Duvido que a tia não vá rir e reconsiderar.

E, é claro, esta não é a primeira vez que a gramática da língua é reformulada desde que o "Latim pobre" de Portugal chegou aqui. Seria até estranho continuar chamando as pessoas de "vosmicê", e essas coisas. Eu é que não quero ser considerada "antiquada" aos 18 anos por me posicionar contra a maldita reforma (só porque vou ter que desaprender e reaprender tudo denovo) pelos meus professores e pessoas de quase 200 anos. Então, se unificar é necessário, que venham as mudanças!


(cá entre nós, ainda quero saber se vai dar para parar sem acento no pa(á)ra e como vai ficar a situação da lingu(ü)iça no açouge, mas tá tranqu(ü)ilo.. no final das contas, com ou sem trema, a consequ(ü)ência é a mesma).













Notas:
- É sério.. um dia a faculdade de Letras ainda vai me deixar (MAIS) louca!

- Inutilidade pública é comigo mesmo o/ hauhauah




lundi, octobre 01, 2007

A CARA DO ESTADO

Como se já não bastasse a precária situação da Universidade Do Estado do Rio de Janeiro, que só quem convive diretamente com os problemas cotidianos da instituição tem plena noção do que é não ter portas em suas salas, não ter ventilador, carteiras, giz, apagador, para não dizer também a falta de professores em determinadas matérias (enfim, não ter condições básicas para que seja dada aula regularmente), fora a questão de infra-estrutura, que vai desde falta de bebedouros, péssimo estado dos banheiros, a situação das rampas e do próprio prédio em si, que chega a ser visível até para aqueles que passam apressados pelos arredores do quarteirão, e sem contar com os absurdos que ocorrem lá que, vai desde greves a suicídios, no domingo a UERJ pegou fogo.

E pegou fogo mesmo, literalmente. Uma suposta fagulha de uma solda que caiu sobre papéis teria conseguido incendiar total ou parcialmente seis andares, destruindo principalmente as salas da reitoria e da sub-reitoria. Pelo menos é o que está sendo divulgado pela imprensa, antes da perícia indicar o que realmente pode ter causado o incidente.

Mas já faz algumas semanas que a UERJ vem pegando fogo. O clima de tensão vem aumentando desde que foi anunciado o corte de cerca de 35 milhões na verba destinada à instituição (como se este dinheiro fosse completamente desnecessário). Foram feitos alguns protestos e passeatas de pouca repercussão por parte dos alunos nessas ultimas semanas, e o boato de greve, embora muitos o desmintam, ainda existe. Para completar, começou agora a campanha eleitoral dos candidatos à reitoria da universidade. Cartazes e mais cartazes colorem aquele ambiente cinzento. E o buxixo incessante põe mais lenha na fogueira. E no domingo, a UERJ finalmente pegou fogo.

Sou uma dos 23 mil alunos matriculados na uerj, uma dos aproximadamente dois mil alunos do curso de letras, uma dos que tiveram a sorte (ou azar) de ter tirado boas notas no vestibular e ingressado na vida acadêmica no primeiro semestre de 2006, depositando lá as suas esperanças e sonhos de um futuro promissor. Afinal, não é todo mundo que consegue passar para a uerj e isso passa a ser um mérito na vida de qualquer um, não é mesmo? Mas essas esperanças e sonhos vão se desmantelando com o tempo e com a carga de realidade com a qual nos deparamos desde o primeiro dia que botamos os pés lá.

Mal entrei na faculdade, me deparei com uma greve de quase três meses, que não resultou em melhoria alguma, e de quebra ainda passei janeiro e o começo de fevereiro estudando.

Fico pensando naqueles que já estão a mais tempo do que eu nessa batalha para conseguir um diploma, o quanto de esforços que eles já não devem ter feito para continuar enchendo a boca para dizer que estuda em uma universidade pública, que tem um currículo renomado e os melhores professores do Estado.

Fico pensando naqueles que desistiram. Aqueles que, de tanto acreditar, acabaram perdendo a fé em órgãos do governo, e viram que foi perda de tempo tentar investir em um futuro melhor. Largaram a faculdade e foram fazer qualquer coisa que exigisse pouca qualificação por aí e sobreviver disso para sustentar a família.

Fico pensando naqueles que estão vivendo sob pressão e perdendo o sono para conseguir uma vaga numa universidade de grande porte, como a UERJ. Naqueles que não podem pagar por um ensino particular e depositam meses (e por que não anos?) Inteiros da sua adolescência estudando para, no final de quatro anos ou mais, ganhar um diploma de persistência como prêmio de consolação.

Fico pensando também se, de lá de cima, onde estão sentadas as pessoas que podem resolver esta situação, dá para ver e sentir tudo isso. Será que eles se importam? Será que o imposto pago pelos meros mortais do Rio de Janeiro está mesmo sendo convertido em melhorias para a população? O incêndio de domingo foi mais uma gota d'água que comprova que a resposta é não.

A UERJ é a cara do estado, é todo o descaso materializado em 12 andares de concreto, aonde faltam coisas que falta a todo cidadão que neste estado vive. Falta segurança, falta infra-estrutura, sobram burocracia e promessas de que tudo será resolvido. Domingo, a uerj pegou fogo, e espero que ela não tenha que explodir e desabar de vez para que o governo do estado veja que a nossa situação é urgente.