lundi, mai 19, 2008

"Sou tricolor" CARIOCA.

(por Carlos Eduardo Novaes, no JB de hoje, 19/05)

"Depois de amanhã, o Fluminense joga todas as suas fichas na Libertadores e eu já me vejo na quarta-feira tricolor desde criancinha.

Claro que as torcidas organizadas e desorganizadas dos outros membros do G4 carioca vão virar paulistas de 450 anos e 200 quilometros de engarrafamentos. O torcedor é antes de tudo um emocional (e um forte) e prefere ver a classificação do São Paulo a aturar o olhar superior do seu vizinho tricolor.

Pois eu lhe digo que consigo torcer pelo Fluminense e pelo Flamengo e até pelo Vasco - apesar do seu regime ditatorial - quando enfrentam times de fora da cidade. Às vezes penso que acima de tudo torço pelo Rio de Janeiro. Alguns amigos estranham essa tal capacidade de torcer pelos outros e já me aconselharam a procurar um médico. Eles dizem: "Isso não é normal". Também acho que não seja, embora admita, como diz Caetano, que de perto ninguém é normal.

Fico procurando as razões de ter torcido pelo Vasco contra o Corinthians de Alagoas e acho que elas estão localizadas na minha infância, quando sofri uma queda e levei 20 pontos na cabeça. Algum parafuso saiu do lugar e acabei me transformando em um torcedor, digamos, genérico. Sei lá. O que sei é que sinto uma necessidade incontrolável de torcer, seja lá qual for o jogo. Outro dia eu estava assistindo a uma final do torneio feminino de boliche nos EUA e quando dei por mim estava torcendo pela loura gordinha como se fosse seu namorado.

No jogo de quarta-feira passada, não entendi muito bem por que o marrento do Renato não entrou com o Conca logo de cara. (NEM EU!) Conca é um desses jogadores que estão escasseando em nossos gramados. Ele chama a bola de "você" (a maior intimidade com ela), tem inteligência espacial (visão de campo) e se entrega à disputa com a disposição de um maratonista. Melhor do que ele, por aqui, só vejo aquele chileno do Palmeiras. Se tivesse à altura do Kaká, Conca estaria na seleção argentina".



Depois, o cara muda completamente de foco, até porque ele não é tricolor - é botafoguense - e, sei lá, deve ter esgotado a sua inspiração, mas não esgotou o assunto. Em geral, o fato é esse mesmo.

Na quarta passada, fui obrigada a assistir ao jogo do Fluminense e São Paulo na companhia de uns 20 flamenguistas (desocupados, por sinal), com direito a bandeirão da torcida organizada deles e musiquinhas da torcida, é claro, do São Paulo. Tudo bem que eu fiquei feliz da vida quando o América tirou o Flamengo da Libertadores (porque o time - e os torcedores - foram tão prepotentes que conseguiram perder com uma vantagem daquelas, o que só comprovou a minha tese a respeito deles), mas eu não desci com a bandeira do Fluminense, e muito menos saí por aí cantando musiquinha do América do México - até porque não sei falar espanhol muito bem, mas whatever.

Enfim, somos o único carioca lá, e o resto vai jurar até a morte que se fosse paulista, torceria pelo São Paulo. Motivos técnicos (e principalmente FINANCEIROS) à parte, e ressaltando o fato da torcida não ganhar o jogo, mas ajuda (assim como o "dinheiro não traz felicidade" mas ajuda), é por isso que times do Rio, de uns tempos pra cá, perderam a paridade com os times paulistas e gaúchos, por exemplo. E anda perdendo de disparada! Qualidade de jogadores, em todos os times, temos. Qual o problema então? Sei lá, não entendo porra nenhuma de futebol. Mas de paixão eu entendo! E dar força é sempre necessário! Então, depois de amanhã comigo vão dois amigos vascaínos e uma amiga flamenguista. Se vão dar sorte ou azar, eu não sei, mas, no final, tudo é festa: se perder, a gente bebe para afogar as mágoas da derrota, se ganhar, a gente brinda para comemorar a vitória. E a
amizade - e o amor ao meu time até na terceira divisão - continua! E a vida depois do jogo também continua igualzinha a antes, afinal, futebol (para quem não é jogador) não serve praticamente para nada mesmo (mas é inúmeras vezes melhor que Raul Gil, Gugu ou Faustão).

Tenha amor ao futebol, ao Rio, ao futebol do Rio, à cerveja, à festa no Maracanã. E RESPEITE a torcida adversária sempre. E não leve a bandeira do Flamengo pro bar em dia de jogo do Fluminense. E se dirigir não beba. E usem camisinha. E quarta nos vemos lá... de verde, grená e branco, hein!









Notas:
- Adoro os textos do Novaes. Ainda que pareçam sem pé e nem cabeça - como este aqui que eu escrevi -, são sempre bem escritos e bem humorados. O resto do texto segue aqui embaixo, que por acaso eu também gostei e concordei, só achei que fugiu um pouquinho, e faltou um grand-finale. Acho que no meu também.. e quem liga, né!?

"Espero que Renato cumpra o que disse depois do jogo no Morumbi e bote o time para chupar a jugular do São Paulo. Renato fez as suas declarações com aquele ar de entediado de quem não aguenta tantas perguntas dos repórteres (sobretudo porque perdeu). Essa obrigação que impuseram aos técnicos e jogadores de falar depois das partidas à imprensa é massacre. Eles terminam a partida exaustos - emocional e fisicamente - loucos para relaxar, para deixar o ambiente de trabalho, e ainda são obrigados a manter a mente sob controle diante daqueles intermináveis interrogatórios. Parece o tribunal de Nuremberg.

Não sei se há uma quantidade limitada de perguntas. Se não há, deveria haver, como acontece com as entrevistas do presidente americano na Casa Branca. Imagine o Bush sentado à frente de um painel com o logo de seus patrocinadores pelo mesmo tempo que permanecem nossos treinadores depois do jogos. Aposto que já teria confessado os reais motivos da invasão ao Iraque".

- Depois eu ponho um texto do Felipe Machado aqui, muito interessante. Mas ele vai cair melhor se o Fluminense perder na quarta.

- Você deve ter se questionado: "Você é idiota? assistiu ao jogo com um bando de flamenguista porque quis, fosse pra casa e assistisse trancada no quarto". Aí eu te respondo que não dava, porque dentro de casa crio duas pragas flamenguistas que conseguem me enxer mais o saco do que a torcida do Flamengo inteirinha. E também porque sou cliente VIP do Trombada, e não traio a Maria por nada!

- E fiquem tranquilos.. eu vou de meia dessa vez!

"O solitário não é solidão".

Me soa tão estranho beber cerveja em algo que não seja uma tulipa ou um copo americano... pra mim, chega a ser mais estranho que estar sozinha num bar, na companhia apenas de um livro.

O barulho das conversas paralelas não me incomoda. À minha volta, pessoas desconhecidas, garçons atenciosos, o jornal passando na tv. A sensação de ser invisível é boa. De não chamar a atenção, de não cobrar um aceno sequer, de não ser ninguém além de mais uma cliente.

Amigo aqui só o moço que me serve a cerveja, que atende prontamente a esse chamado sem querer nada em troca, a não ser o dinheiro pelo consumo e o serviço prestado. Como deveriam ser as amizades e os amores. Assim, despretenciosos, como alguém que entrou no bar apenas para se proteger da chuva e acabou tomando uma cerveja.

Boa conversa tenho sempre. Pessoas de bem, bons amigos e boa companhia não me falta (até porque, se não for assim, não fico nem perto). Sou rodeada por quem quer meu bem, por quem quer que eu seja decente, bem resolvida, boa amiga, boa aluna, boa profissional, boa filha. Por quem precisa dos meus conselhos, dos meus ombros, do meu colo. Por quem quer que eu estude, trabalhe, arrume meu quarto, lave a louça, e esteja sempre sorrindo, sempre com meu bom humor sarcástico e respostas inusitadas na ponta da língua afiada.

E quem quer que eu nunca esteja sozinha, que eu nunca precise ser eu mesma. Enquanto estando só, eu me sinto tão eu e gosto tanto da minha companhia que faço questão de momentos invisíveis como este, onde a única cobrança mesmo são os r$ 2,70 por cada Itaipava.

No bar, sozinha, posso me dar o luxo de conhecer bêbados interessantes e dar papo para estranhos. Cada saída dessa dá é pano pra manga, é linha pro tricô das minhas idéias. E sempre aprendo algo novo. Amo ajudar a quem precisa da minha ajuda, mas eu preciso justamente é de quem não precisa de mim, ser coadjuvante na minha propria história. Estar sozinha não significa jamais ser sozinha.












Notas:
- Mas, cá entre nós, eita Itaipava tá cara né?? Que absurdo! Na minha época, era só R$1,40!
- A grande desvantagem de fazer essas maluquices sozinha, é que não tem ninguém para rachar a conta. Duvido que os bêbados que sempre conheço nessas situações se disponibilizariam a conceder tal feito tão gentil.

lundi, mai 12, 2008

"Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua"

"Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava você era a mais brilhante
E se a gente se cansava você só seguia a diante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

O meu samba assim marcava na cadência os seus passos
O meu sonho se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você me assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade por favor não dê na vista
Bate palma com vontade, faz de conta que é turista"
(Chico Buarque)


Então eu passei, como quem passa do nada.

Daquelas pessoas que ali estavam, fiz questão de ser só mais uma. No começo, parei só para escutar a música. Quando dei por mim, passei só a te observar. Você era o mais bonito dos músicos daquela ala. E eu passei a ser mais do que só mais uma que passava. Era eu quem estava sendo observada. Eu dividia a sua atenção com os instrumentos. Você dividia a minha atenção com o por-do-sol. Resolvi parar, mais uns 15 minutos. Parei o resto da noite sem perceber, e sem saber que pararia o resto de tantas outras noites de verão.

Daí, noites se passaram, como se fossem intermináveis.

Como intermináveis eram os segundos das trocas de olhares, como infinitos eram os instantes que estávamos perto. Fiz um pedestal de cristal imenso para te colocar em cima, te guardar comigo nos meus sonhos. Eu te idolatrava, te enautecia em segredo. Segredos estes, todos revelados no silêncio dos nossos olhares. Fez meus dias mais coloridos, transformou minha vida em música. Eu sonhava dormindo, eu sonhava acordada. Você lá em cima, eu aqui em baixo. Você, como se quisesse que eu subisse ao palco, eu, querendo que você viesse sambar comigo no chão. Eu poderia ficar o tempo que você quisesse nessa entrega secreta e suave. Poderia desejar com toda a minha alma que o dia do nosso encontro chegasse.

Enfim, o dia chegou, como se fosse o mais esperado.

Vi você tão de perto que pude até te abraçar. Vi você vestido de gente, de pele, carne, osso, cheiro. Vi meu sonho materializado e entrei num estado de espírito que era mais que a paz: era carnaval. Você brilhava feito o sol, de dia e de noite. Você trazia alegria em cada rua que passava. A gente fazia a festa. O seu samba assim marcava na cadência os meus passos, o meu sonho se embalava no carinho dos seus braços. Você tocava para eu não parar de dançar, eu dançava mais ainda, para você não parar de tocar. E se a gente se cansava, você só seguia a diante. E a gente sorria. E a gente era feliz, e sabia. E se chovesse, e se fizesse sol, a gente não queria saber. A gente não queria saber do tempo.

Aí o tempo passou.

E eu não mais vi os seus olhos me olhando por aí, não mais ouvi sua musica me convidando a dançar por aí. Aí o mundo ficou muito grande. Aí minha vida ficou menos colorida. E o que era vidro se quebrou. O quera doce acabou. O que antes era Zé Keti agora é Nelson Cavaquinho. Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado, você só dá chá dançante onde não sou convidada.

Mas a vida não deixou de ser musica, não senhor. O samba não vai deixar de ser na rua, de pés descalços no paralelepípedo, molhados de chuva ou escaldados de sol.. isso só não é mais para você, de salto alto em noites de gala. Ainda que eu vá sambar na pista e você de galeria, com uma bela companhia ao lado, disfarce apenas, e observe de longe o meu gingado. Com ou sem a sua música, eu não vou parar de dançar. E meus passos não sairão mais procurando você. Nem pra te ouvir nem pra te ver. Já te vesti de rei, já te vesti de gente, hoje te visto de invisível, de mais um, de ninguém.


Quem te viu, quem te vê, hein..