lundi, septembre 01, 2008

Não era amor.

Eu sei quando eu to apaixonada. É facil saber.

Os sintomas eram até parecidos, e era tão fácil confundir quanto quando se confunde um simples resfriado com uma gripe de te deixar dias de cama. Você só tem certeza depois que passa. Mas até passar, você já tentou remediar com todos os medicamentos que haviam dentro da gaveta.

Depois você vê, "meu Deus, que bobagem!"


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Não era amor, não era paixão, também não era uma vontadezinha leviana. Mas que mania maluca a nossa, de querer classificar tudo que existe!

Você não sabe o que é, você só sabe que é forte. Você não sabe o por quê, nem como, só sabe que é. E não tem que ser, apenas é. E é bom. Não precisa ser, mas faz bem. Não tem futuro. Nem passado. É hoje, aqui, agora. Não interessa. Você finge que não é nada, mas sabe que é. Você vive bem sem, mas vive melhor com.

É líquido, flutuante, confortável, e está em constante movimento, como agua do mar ou da cachoeira. Às vezes calmaria, às vezes ressaca ou tromba d'água. É a corrente que te leva, e você que se deixa levar.

Não é chão nem porto seguro, mas quem precisa disso quando já se está segura?

Parece errado. Mas no fundo, no fundo, você tem uma certeza absurda de que é certo.

Não, não era paixão, nem amor. Era melhor.



"Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo.

Eu bati a 200 km por hora e estou voltando á pé pra casa, avariada.

Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos.

Talvez este seja o ponto. Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas.

Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência?

Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não.

Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.

Não era amor,era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo.

Não era amor. Era melhor".

(é da Martha Medeiros. Só podia ser.)

jeudi, août 07, 2008

Herrar é o mano!

Quantas e quantas vezes já me disseram isso, e tantas outras eu já não disse também? Parece uma função fisiológica nossa cometer erros. Eu erro, tu erra, eles eram.. Ops, errei. Tu erras, e não menos que eu. Nada mais humano que cometer enganos.

Quem nunca apostou alto pela opção errada? Marcou c) quando a resposta era a) ? Ou afirmou com toda a convicção do mundo que era com SS, quando na verdade era com Ç? Leu o endereço errado, confundiu os números do telefone, pegou o trajeto mais longo e o onibus que não era pra ter pego?

Que jogador nunca perdeu um pênalti ou errou o passe por ter se adiantado ou se atrasado em questões de milésimos de segundos? Que goleiro nunca frangou? Que cantor nunca errou a letra da própria música?

Quem nunca se deixou levar, quando o vento, repentinamente, resolveu soprar pro lado errado? Quem nunca agiu por impulso e se arrependeu depois? Quem jamais entrou naquele conflito banal 'cabeça x coração' e saiu perdendo no final? Quem nunca acreditou no que não devia, se apoiou no que não devia, foi mais longe do que devia? Quem, alguma vez, não passou da conta, extrapolou, comeu demais, bebeu demais, dormiu demais, perdeu a hora? Julgou errado, se julgou errado? Enganou sem querer, e se enganou também?

Se enganar é normal. Dar passos em falso é mais certo que caminhar em segurança. Desculpe, mas sou humana, passível de erro, imperfeita, com fraquezas e limitações. Me apresente uma só pessoa no mundo que não seja assim, para que ela possa, enfim, me jogar a primeira pedra.

E mesmo que todos errem, me cobram uma postura infalível, numa sociedade onde, erroneamente, não se comete deslizes, onde não se conjuga o verbo no tempo errado, onde nunca erraram numa conta matemática. Eu posso estar errada, mas isso não é vida para mim. Antes um erro sincero que uma verdade forjada - virou um princípio.

Dizem que é errando que se aprende. Que é errando várias vezes que se acerta. E quer saber ao certo? Pra mim, que não aprendo mesmo, tanto faz. O meu certo é o errado, o normal é o anormal, não quero mais me esforçar para acertar. Quanto mais eu me policio para me enquadrar em um perfil certinho, menos vivo sendo eu, na minha condição: humana, com H maiúsculo, mulher latino-americana de sangue bem quente, que se queima nas próprias confusões, mas faz questão de estar sempre vivendo, ainda que isso a remeta ao erro constante. Sou gente, que respira fundo e perde a respiração de vez enquando, aquecida a 36º, oscilante entre "sim" e "não", e não uma constante previsível de estatística desumana.

E herrar não é nada menos que umano.
Ou estou errada?

mardi, août 05, 2008

Eu, o Felipe, e a China.

Se você é uma daquelas pessoas que até se esforçam para estar por dentro de tudo, mas depois de queimar grande parte dos seus neurônios, percebe que são as coisas que, definitivamente, não conseguem entrar na sua cabeça, você está lendo o blog da pessoa certa.

Muito feio uma aspirante a internacionalista confessar isso, mas estou completamente por fora dos jogos olímpicos de Pequim. Quer dizer, até sei uma coisa ou outra, como por exemplo que aquela menina do volei se recuperou do machucado que eu nem sabia que ela teve e vai jogar, que o menino do handball que foi cortado porque fumou maconha, e que o Thiago Silva é dúvida no jogo de depois de amanhã, mas, em geral, não sei de mais nada. E estou tão preocupada com isso quanto em descobrir quem matou o Marcelo em A Favorita (que, por sinal, nem assisto, mas acho interessante).

Eu não sustentaria cinco minutos de conversa com alguém que sabe quantos atletas brasileiros vão participar desta olimpíada. Não porque não gosto, não é isso. Até acho legal, e tal, mas não consigo entender muita coisa que tá acontecendo lá do outro lado do mundo. E olha que lá ta acontecendo coisa pra caramba! Mas, sinceramente, os jogos olímpicos são, dessas coisas a saber, a última que me apetece.

Não, eu não concordo. Preferia que os jogos fossem em qualquer outro lugar no mundo menos hipócrita. Preferia que fossem na Etiópia. E não cabe mais gente na China. Li algumas coisas sobre o cotidiano de lá para um trabalho da faculdade, e soube que há engarrafamento de pedestres nas calçadas, e até mesmo guardas para este tipo de trânsito. Sem falar na poluição. Se eu já fico triste ao ver, da ponte Rio-Niterói, o sol se pondo na núvem cinza de poluição do Rio de Janeiro, imagina não poder enchergar o céu?? Que que eles vão fazer com os dejetos e os restos que sei-lá-quantos mil turistas e atletas do mundo inteiro deixarão por lá? Cada um vai levar o seu pra casa? E aqueles casos de terremoto, furacão, e coisas do gênero, que a pouquíssimo tempo atrás devastaram cidades inteiras? Alguém se lembra disso? Tibet é na China, sabia? E aposto que eles não pararam com os conflitos para assistir à abertura dos jogos, embora a minha televisão não esteja mais mostrando quase nada. A cara de pau dos líderes também é curiosíssima. Como não misturar questões políticas e ideológicas, intrínsecas às diferenças culturais, ainda que o esporte (e a arte, e coisa e tal) seja linguagem universal?

Você sabe? Não, nem eu. Tá tudo muito lindo na televisão, mas na minha opinião, a China não é - e está longe de ser - paraíso de alguma coisa, quiçá dos jogos olímpicos. Talvez eu mude de opinião.

Mas o Felipe (o Machado, aquele cara do blog que eu gosto) está na China. E está vendo as coisas sob um olhar muito interessante. Tem até um blog
http://blog.estadao.com.br/blog/pingpong/ onde ele vem relatando a sua viagem. Para quem não entende nada e também não foi à China (como eu), vale a pena acompanhar!

O Felipe e a China formaram uma dupla e tanto! Acredito que ainda dê muuuito pano pra manga. E o que eu tenho a ver com isso?? Absolutamente nada.










Notas:
- Eu juro que não odeio a China. Muito longe disso. Acho a cultura milenar oriental interessantíssima, vejo tudo com muito fascínio e curiosidade, e como toda boa curiosidade, teria prazer em desvendar mais sobre o assunto. Muitos amigos meus aqui da faculdade vão falar sobre ela na monografia. Mas que não é esse carnaval todo, ah, por favor! Deixa o carnaval aqui com a gente! Em 2016 a gente faz um dígno, garanto.
- Olimpíadas da Etiópia foi péssimo, pegou malzão. =\

lundi, juillet 21, 2008

"Chiques pra caramba"

"Em caso de descaso, em qualquer desatenção, finja que não. Você não pode se incomodar. Nada deverá te atingir ou te afetar, no hard feelings. A vida é assim e você não pode se incomodar. As pessoas dão um perdido. Você dá um perdido. Todo mundo dá um perdido e não é você quem vai se incomodar agora com esse tipo de coisa. Imagina.

O outro não vai se iludir, ou não deveria, nem deve mais se lembrar daquela história, eu te disse você topou, nós combinamos, esse tipo de acerto já foi, pra lá de ultrapassado, como a corrente de acordos e afetos desfeitos pela informalidade, ampla, geral e irrestrita, postura que tomou posse de nós, nessa onda pós-tudo, onde tudo se pode e quem sabe se perde mesmo.

Entre a mentira e a verdade de se incomodar com a coisa, o achado ou o perdido, a quebra do trato e como reagir a ele, você não vai hesitar, seguirá o mandamento quase-budista, afinal faz parte do clube dos safos ou que nele quer entrar. Como o bom cabrito que não berra, você será gentil e confortável como brisa na calçada, suave como o novo absorvente, refinado, impermeável. Incomodado? Você?

Há compromissos e compromissos, e se você se importar com a falta de compromisso com o compromisso, estará se importando com aquele que não deve se importar - portanto, não se importe, não corra esse risco, não pague o mico. Finja que nem ligou quando ele não ligou e também você não ligaria, com tanta coisa pra fazer. Jamais toque no assunto. Minta ou esqueça. E não é pra ficar sentido, que horror, que história é essa de sentir, falta, desapontamento ou desejo, as pessoas têm seus motivos, todo mundo correndo, sem tempo pra nada, telefonar, avisar, não precisa, você entende perfeitamente.

Nonchalance* pode ser condição para a leveza e a distinção - mas não precisa exagerar. Você até poderia se importar, levando-se em conta sua natureza, humana, mamífera, cinco sentidos e sangue quente. Você poderia se importar, e talvez fosse lindo. Mas como fazê-lo, quando e com quem, se é tão mais fácil mentir e se achar, dar um perdido, ou no caso de ser você, levar o perdido, que diferença, tanto faz, ninguém importa tanto assim, não é você quem vai levar a sério, e por aí vai, ou não vamos, assim não vamos mesmo, a não ser que a idéia seja essa, chegar a lugar nenhum.

Ele não pede desculpa você também, ela esqueceu de retornar você nem se importou, que é isso, amigos da vida inteira ou da última hora, era só um encontro, um estar, coisa mais normal de acontecer, tinha uma mensagem no celular, ou pelo menos o número registrado, ou nada, mas também pode ser o seu celular, que vive fora de área, como ele ou você, inalcançáveis, intocáveis, chiques pra caramba".

(Isa Pessoa, na Revista O Globo, 13 de julho de 2008.)
*NONCHALANCE: malemolência, em Francês (chique pra caramba, hehe!)

samedi, juin 28, 2008

Para curar qualquer dor.

Para curar qualquer dor, como se cura qualquer ressaca: sonrisal limão, eno de laranja e muita água. Um banho gelado, que seja um balde de água fria nas idéias. As idéias, presas num emaranhado delas mesmas. A cabeça que, confusa, pede pra rever a cena, reouvir a notícia, porque ainda não assimilou tudo muito bem.

Para curar qualquer dor, grite, xingue, esbraveje, mande à merda. Ainda que silenciosamente. Sinta o gosto amargo na boca, aquele que seca e dá nojo, aquele que te faz desejar nunca ter chegado perto daquilo que deu origem à sua dor. Você sente nojo é de você. Você grita consigo, se xinga, esbraveja, se manda à merda. Vai à merda. Fica na merda.

Para curar qualquer dor, uma cerveja gelada. Um maço de cigarros, uma roda de amigos. Uma cachaça forte, numa mesa de bar. Bebida-analgésico. Bebida-perda-de-memória-recente. Olhando as bolinhas de gás que sobem naquele amarelo-ouro brilhante, tão bonito.. Para curar qualquer dor, não olhe pro céu, não é hora. Deixe que o primeiro clarear do dia te avise quando é tempo de voltar pra casa. Sozinho, na madrugada amiga, acolhedora, na noite com seus sortilégios. As ruas e lugares esvaziando, sobrando você, sobrando aqueles que saíram para curar suas dores. Sobrando somente a dor. Vinte e quatro cervejas, para curar qualquer dor.

Para curar qualquer dor, não tente entender. Não busque explicações satisfatórias, comprovações científicas, não procure no dicionário. Não procure em gavetas, portas, armários, lojas ou salões. Não está na janela, nem dentro da geladeira. Não queira entender. Não espere respostas na astrologia, não pense que vai cair do céu. E se só Deus sabe, não se daria o trabalho de te contar. Não apele pra macumba. Não fique remoendo.

Para curar qualquer dor, engula o choro. Seja homem. Vá pro canto se esconder, caso as lágrimas teimosas cismem em cair. Ninguém pode ver. Respire fundo, engula a seco, vai descer rasgando, mas se dê por satisfeito. Ou, pelos menos, finja. Finja simpatia. Force sorrisos, e se esforce para que saiam algo próximo a naturais. Isso, continue rindo esse sorriso quase natural pendurado no rosto, para curar qualquer dor. Seja fingidor.

Para curar qualquer dor, não pare. Não olhe pros lados, não tem ninguém. Não olhe pra trás. Como bicicleta, que só se equilibra em movimento, não pare. Não pense. Não pare para pensar.

Para curar qualquer dor, basta fechar os olhos, abrir os ouvidos, abrir o coração. Deixe o que é bom entrar como inspiração. Deixe a música penetrar como água, pelos poros da pele. Se esqueça, se largue, se abandone em algum lugar ou instante. Solte suas amarras, se solte. Permita-se. Dance. Para curar qualquer dor, a bossa de um repique e um pandeiro. Distraia-se no movimento, nos instrumentos, nos sorrisos, viaje no som.

Para curar qualquer dor, viaje. Pra longe, ou bem longe, ou pra perto, ou sem sair do lugar. Liberte o pensamento. Deixe o vento descabelar ou a brisa fazer cosquinha. Pode abrir os olhos já, e enxergar quanto o há na sua frente, não antes de olhar o quanto há dentro de você. O universo inteiro lá fora, o infinito particular aí dentro. Uma dor não é nada perto disso, nem você. Tá tudo tão perto... você é pequeno, pequenininho, insignificante. Você some no incomensurável. Suma.

Para curar qualquer dor, chore. Chore muito, abra o berreiro, bote pra fora a sua dor. Para curá-la, tem de haver ferida sangrando, tem que chorar. Chore tanto, até que você fique sem voz. Chore tanto, até que você fique fraco. Se dilacere, rasgue a roupa, arranque os cabelos. Chore alto, forte, intenso. Se despedace. Soluce. Fique com o rosto inchado. Fique com sono.

Para curar qualquer dor, durma. Durma feito criança. Durma feito pedra. Descanse, relaxe. Um banho quente, antes disso, para afagar o coração. Deite o rosto no travesseiro, e não se preocupe, amanhã você já não vai mais molhá-lo. Foi só um susto, criança. Se faça cafuné, se nine, e durma. Durma bem, durma com os anjos. Ao acordar, você vai lembrar que, como tudo na vida, as alegrias, o dinheiro, o onibus, o tempo, os amores, as pessoas, tudo, tudo passa. Ao acordar, toda dor passa, toda dor se esquece. Você se torna mais forte para poder doer mais, depois, poder curar qualquer coisa depois.

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E, de repente, eu abri os olhos, e ela não estava mais lá. Nem pra se despedir. A dor foi embora sem falar comigo. Chegou de susto, mas foi embora de mansinho, em absoluto silêncio.

lundi, juin 09, 2008

Milícia dos torturadores de Santo Antônio.

A segunda semana de junho é, digamos assim, uma semana meio tensa para as(os) solteiras(os), sejam elas(es) as(os) recém-solteiras(os) ou as(os) sempre-solteiras(os) de sempre. E, após muito debate numa roda de amigos, chegamos a conclusão de que não é por causa do dia dos namorados.. é por causa do dia de Santo Antônio!

Dia 12 junho é um dia comum, sempre foi. Data capitalista sem filosofia nem utilidade alguma, a não ser individar o pobre casal durante uns meses e enriquecer lojas, restaurantes, e até motéis. Data para comemorar o amor tinha que ser o aniversário do relacionamento. Ou melhor: o amor deveria ser comemorado todos os dias, e da melhor maneira possível (seja pelos pombinhos apaixonados encoleirados ou não). O respeito, o carinho, a sorte de ter alguém legal com quem dividir os momentos não deveria ter data marcada para ser celebrado.

O grande problema não está no dia 12 de junho, mas sim no TREZE! Este ano, mais ainda: SEXTA FEIRA TREZE! Dia de Santo Antônio. O santo casamenteiro. Crenças à parte, bem ou mal todo casal deve ter recebido um dedinho de ajuda dele. Menos a gente.

Temos uma sina com Santo Antônio que é impressionante! Moramos na travessa SANTO ANTÔNIO, o nome do nosso prédio é SANTO ANTÔNIO, e na nossa esquina tem a capela de SANTO ANTÔNIO. Com tantas coinscidências, por que ele esqueceu de nós?? Logo nós, que desde que nos entendemos por gente estamos lá, todo santo 13 de junho, religiosamente, fazendo promessa, simpatia, participando da quadrilha da festa junina. Isso é muita ingratidão! Santo Antônio se tornou tão relapso para com o seu povo que estamos indignados! Daqui, só um ou outro foi agraciado pelo tal, mas a grande maioria foi largado às traças, na guerreirice nossa de todo fim de semana. Nem Papai Noel esquece assim da gente, nem mesmo quando não somos bons meninos! E aposto que aquela pessoa da musiquinha junina também não foi correspondida*!

Ah, mas esse ano vai ser diferente... na sexta-feira, será inaugurada a "Milícia dos torturadores de Santo Antônio". Profissionais capacitados, treinados e devidamente armados para maltratar a vítima, utilizando-se de técnicas de tortura provenientes da Ditadura Militar. Só botar o santinho de castigo, virado para a parede, não vem dando resultados? Venha para a milícia você também! E por acaso é só polícia ou político que pode maltratar o povo? Nós também não somos filhos de Deus?? Também temos o direito! Juntem-se a nós!

E chega de Santo Antônio apenas de cabeça pra baixo! Agora é guerra! No mínimo, pendurado pelos pés, de cabeça pra baixo dentro de um aquário cheio de material inflamável, com fogo em volta. Ou então fazer à lá Nardoni e ameaçar jogar o coitado pela janela, que tá na moda. Dessa ele não escapa! E aposto que, frente a tanto desespero, até São João vai se sensibilizar com a nossa causa!



*"Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio
São João disse que não!
São João disse que não!
Isto é lá com Santo Antônio!
Eu pedi numa oração
Ao querido São João
Que me desse um matrimônio
Matrimônio! Matrimônio! (lá lá lá lá)
Isto é lá com Santo Antônio!

Implorei a São João
Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio
São João ficou zangado
São João só dá cartão
Com direito a batizado
Implorei a São João
Desse ao menos um cartão
Que eu levava a Santo Antônio
Matrimônio! Matrimônio! (lá lá lá lá)
Isso é lá com Santo Antônio!

São João não me atendendo
A São Pedro fui correndo
Nos portões do paraíso
Disse o velho num sorriso:
Minha gente, eu sou chaveiro!
Nunca fui casamenteiro!
São João não me atendendo
A São Pedro fui correndo
Nos portões do paraíso
Matrimônio! Matrimônio! (lá lá lá lá)
Isso é lá com Santo Antônio!"

Se dessa vez não der certo, gente, sinto muito, mas o nosso fim é no convento!


Notas:
- É ÓBVIO que não é pra me levar a sério, não precisava nem desse p.s. aqui! hahauha

lundi, mai 19, 2008

"Sou tricolor" CARIOCA.

(por Carlos Eduardo Novaes, no JB de hoje, 19/05)

"Depois de amanhã, o Fluminense joga todas as suas fichas na Libertadores e eu já me vejo na quarta-feira tricolor desde criancinha.

Claro que as torcidas organizadas e desorganizadas dos outros membros do G4 carioca vão virar paulistas de 450 anos e 200 quilometros de engarrafamentos. O torcedor é antes de tudo um emocional (e um forte) e prefere ver a classificação do São Paulo a aturar o olhar superior do seu vizinho tricolor.

Pois eu lhe digo que consigo torcer pelo Fluminense e pelo Flamengo e até pelo Vasco - apesar do seu regime ditatorial - quando enfrentam times de fora da cidade. Às vezes penso que acima de tudo torço pelo Rio de Janeiro. Alguns amigos estranham essa tal capacidade de torcer pelos outros e já me aconselharam a procurar um médico. Eles dizem: "Isso não é normal". Também acho que não seja, embora admita, como diz Caetano, que de perto ninguém é normal.

Fico procurando as razões de ter torcido pelo Vasco contra o Corinthians de Alagoas e acho que elas estão localizadas na minha infância, quando sofri uma queda e levei 20 pontos na cabeça. Algum parafuso saiu do lugar e acabei me transformando em um torcedor, digamos, genérico. Sei lá. O que sei é que sinto uma necessidade incontrolável de torcer, seja lá qual for o jogo. Outro dia eu estava assistindo a uma final do torneio feminino de boliche nos EUA e quando dei por mim estava torcendo pela loura gordinha como se fosse seu namorado.

No jogo de quarta-feira passada, não entendi muito bem por que o marrento do Renato não entrou com o Conca logo de cara. (NEM EU!) Conca é um desses jogadores que estão escasseando em nossos gramados. Ele chama a bola de "você" (a maior intimidade com ela), tem inteligência espacial (visão de campo) e se entrega à disputa com a disposição de um maratonista. Melhor do que ele, por aqui, só vejo aquele chileno do Palmeiras. Se tivesse à altura do Kaká, Conca estaria na seleção argentina".



Depois, o cara muda completamente de foco, até porque ele não é tricolor - é botafoguense - e, sei lá, deve ter esgotado a sua inspiração, mas não esgotou o assunto. Em geral, o fato é esse mesmo.

Na quarta passada, fui obrigada a assistir ao jogo do Fluminense e São Paulo na companhia de uns 20 flamenguistas (desocupados, por sinal), com direito a bandeirão da torcida organizada deles e musiquinhas da torcida, é claro, do São Paulo. Tudo bem que eu fiquei feliz da vida quando o América tirou o Flamengo da Libertadores (porque o time - e os torcedores - foram tão prepotentes que conseguiram perder com uma vantagem daquelas, o que só comprovou a minha tese a respeito deles), mas eu não desci com a bandeira do Fluminense, e muito menos saí por aí cantando musiquinha do América do México - até porque não sei falar espanhol muito bem, mas whatever.

Enfim, somos o único carioca lá, e o resto vai jurar até a morte que se fosse paulista, torceria pelo São Paulo. Motivos técnicos (e principalmente FINANCEIROS) à parte, e ressaltando o fato da torcida não ganhar o jogo, mas ajuda (assim como o "dinheiro não traz felicidade" mas ajuda), é por isso que times do Rio, de uns tempos pra cá, perderam a paridade com os times paulistas e gaúchos, por exemplo. E anda perdendo de disparada! Qualidade de jogadores, em todos os times, temos. Qual o problema então? Sei lá, não entendo porra nenhuma de futebol. Mas de paixão eu entendo! E dar força é sempre necessário! Então, depois de amanhã comigo vão dois amigos vascaínos e uma amiga flamenguista. Se vão dar sorte ou azar, eu não sei, mas, no final, tudo é festa: se perder, a gente bebe para afogar as mágoas da derrota, se ganhar, a gente brinda para comemorar a vitória. E a
amizade - e o amor ao meu time até na terceira divisão - continua! E a vida depois do jogo também continua igualzinha a antes, afinal, futebol (para quem não é jogador) não serve praticamente para nada mesmo (mas é inúmeras vezes melhor que Raul Gil, Gugu ou Faustão).

Tenha amor ao futebol, ao Rio, ao futebol do Rio, à cerveja, à festa no Maracanã. E RESPEITE a torcida adversária sempre. E não leve a bandeira do Flamengo pro bar em dia de jogo do Fluminense. E se dirigir não beba. E usem camisinha. E quarta nos vemos lá... de verde, grená e branco, hein!









Notas:
- Adoro os textos do Novaes. Ainda que pareçam sem pé e nem cabeça - como este aqui que eu escrevi -, são sempre bem escritos e bem humorados. O resto do texto segue aqui embaixo, que por acaso eu também gostei e concordei, só achei que fugiu um pouquinho, e faltou um grand-finale. Acho que no meu também.. e quem liga, né!?

"Espero que Renato cumpra o que disse depois do jogo no Morumbi e bote o time para chupar a jugular do São Paulo. Renato fez as suas declarações com aquele ar de entediado de quem não aguenta tantas perguntas dos repórteres (sobretudo porque perdeu). Essa obrigação que impuseram aos técnicos e jogadores de falar depois das partidas à imprensa é massacre. Eles terminam a partida exaustos - emocional e fisicamente - loucos para relaxar, para deixar o ambiente de trabalho, e ainda são obrigados a manter a mente sob controle diante daqueles intermináveis interrogatórios. Parece o tribunal de Nuremberg.

Não sei se há uma quantidade limitada de perguntas. Se não há, deveria haver, como acontece com as entrevistas do presidente americano na Casa Branca. Imagine o Bush sentado à frente de um painel com o logo de seus patrocinadores pelo mesmo tempo que permanecem nossos treinadores depois do jogos. Aposto que já teria confessado os reais motivos da invasão ao Iraque".

- Depois eu ponho um texto do Felipe Machado aqui, muito interessante. Mas ele vai cair melhor se o Fluminense perder na quarta.

- Você deve ter se questionado: "Você é idiota? assistiu ao jogo com um bando de flamenguista porque quis, fosse pra casa e assistisse trancada no quarto". Aí eu te respondo que não dava, porque dentro de casa crio duas pragas flamenguistas que conseguem me enxer mais o saco do que a torcida do Flamengo inteirinha. E também porque sou cliente VIP do Trombada, e não traio a Maria por nada!

- E fiquem tranquilos.. eu vou de meia dessa vez!

"O solitário não é solidão".

Me soa tão estranho beber cerveja em algo que não seja uma tulipa ou um copo americano... pra mim, chega a ser mais estranho que estar sozinha num bar, na companhia apenas de um livro.

O barulho das conversas paralelas não me incomoda. À minha volta, pessoas desconhecidas, garçons atenciosos, o jornal passando na tv. A sensação de ser invisível é boa. De não chamar a atenção, de não cobrar um aceno sequer, de não ser ninguém além de mais uma cliente.

Amigo aqui só o moço que me serve a cerveja, que atende prontamente a esse chamado sem querer nada em troca, a não ser o dinheiro pelo consumo e o serviço prestado. Como deveriam ser as amizades e os amores. Assim, despretenciosos, como alguém que entrou no bar apenas para se proteger da chuva e acabou tomando uma cerveja.

Boa conversa tenho sempre. Pessoas de bem, bons amigos e boa companhia não me falta (até porque, se não for assim, não fico nem perto). Sou rodeada por quem quer meu bem, por quem quer que eu seja decente, bem resolvida, boa amiga, boa aluna, boa profissional, boa filha. Por quem precisa dos meus conselhos, dos meus ombros, do meu colo. Por quem quer que eu estude, trabalhe, arrume meu quarto, lave a louça, e esteja sempre sorrindo, sempre com meu bom humor sarcástico e respostas inusitadas na ponta da língua afiada.

E quem quer que eu nunca esteja sozinha, que eu nunca precise ser eu mesma. Enquanto estando só, eu me sinto tão eu e gosto tanto da minha companhia que faço questão de momentos invisíveis como este, onde a única cobrança mesmo são os r$ 2,70 por cada Itaipava.

No bar, sozinha, posso me dar o luxo de conhecer bêbados interessantes e dar papo para estranhos. Cada saída dessa dá é pano pra manga, é linha pro tricô das minhas idéias. E sempre aprendo algo novo. Amo ajudar a quem precisa da minha ajuda, mas eu preciso justamente é de quem não precisa de mim, ser coadjuvante na minha propria história. Estar sozinha não significa jamais ser sozinha.












Notas:
- Mas, cá entre nós, eita Itaipava tá cara né?? Que absurdo! Na minha época, era só R$1,40!
- A grande desvantagem de fazer essas maluquices sozinha, é que não tem ninguém para rachar a conta. Duvido que os bêbados que sempre conheço nessas situações se disponibilizariam a conceder tal feito tão gentil.

lundi, mai 12, 2008

"Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua"

"Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava você era a mais brilhante
E se a gente se cansava você só seguia a diante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

O meu samba assim marcava na cadência os seus passos
O meu sonho se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você me assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade por favor não dê na vista
Bate palma com vontade, faz de conta que é turista"
(Chico Buarque)


Então eu passei, como quem passa do nada.

Daquelas pessoas que ali estavam, fiz questão de ser só mais uma. No começo, parei só para escutar a música. Quando dei por mim, passei só a te observar. Você era o mais bonito dos músicos daquela ala. E eu passei a ser mais do que só mais uma que passava. Era eu quem estava sendo observada. Eu dividia a sua atenção com os instrumentos. Você dividia a minha atenção com o por-do-sol. Resolvi parar, mais uns 15 minutos. Parei o resto da noite sem perceber, e sem saber que pararia o resto de tantas outras noites de verão.

Daí, noites se passaram, como se fossem intermináveis.

Como intermináveis eram os segundos das trocas de olhares, como infinitos eram os instantes que estávamos perto. Fiz um pedestal de cristal imenso para te colocar em cima, te guardar comigo nos meus sonhos. Eu te idolatrava, te enautecia em segredo. Segredos estes, todos revelados no silêncio dos nossos olhares. Fez meus dias mais coloridos, transformou minha vida em música. Eu sonhava dormindo, eu sonhava acordada. Você lá em cima, eu aqui em baixo. Você, como se quisesse que eu subisse ao palco, eu, querendo que você viesse sambar comigo no chão. Eu poderia ficar o tempo que você quisesse nessa entrega secreta e suave. Poderia desejar com toda a minha alma que o dia do nosso encontro chegasse.

Enfim, o dia chegou, como se fosse o mais esperado.

Vi você tão de perto que pude até te abraçar. Vi você vestido de gente, de pele, carne, osso, cheiro. Vi meu sonho materializado e entrei num estado de espírito que era mais que a paz: era carnaval. Você brilhava feito o sol, de dia e de noite. Você trazia alegria em cada rua que passava. A gente fazia a festa. O seu samba assim marcava na cadência os meus passos, o meu sonho se embalava no carinho dos seus braços. Você tocava para eu não parar de dançar, eu dançava mais ainda, para você não parar de tocar. E se a gente se cansava, você só seguia a diante. E a gente sorria. E a gente era feliz, e sabia. E se chovesse, e se fizesse sol, a gente não queria saber. A gente não queria saber do tempo.

Aí o tempo passou.

E eu não mais vi os seus olhos me olhando por aí, não mais ouvi sua musica me convidando a dançar por aí. Aí o mundo ficou muito grande. Aí minha vida ficou menos colorida. E o que era vidro se quebrou. O quera doce acabou. O que antes era Zé Keti agora é Nelson Cavaquinho. Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado, você só dá chá dançante onde não sou convidada.

Mas a vida não deixou de ser musica, não senhor. O samba não vai deixar de ser na rua, de pés descalços no paralelepípedo, molhados de chuva ou escaldados de sol.. isso só não é mais para você, de salto alto em noites de gala. Ainda que eu vá sambar na pista e você de galeria, com uma bela companhia ao lado, disfarce apenas, e observe de longe o meu gingado. Com ou sem a sua música, eu não vou parar de dançar. E meus passos não sairão mais procurando você. Nem pra te ouvir nem pra te ver. Já te vesti de rei, já te vesti de gente, hoje te visto de invisível, de mais um, de ninguém.


Quem te viu, quem te vê, hein..

lundi, avril 14, 2008

Atchin e Dengoso.

Poucas sensações na vida são tão prazerosas quanto a de um espirro. Que coisa maravilhosa! Aquele espirro que vem de dentro, você sente chegando aos poucos, e não dá pra segurar. Ou então aquela sequência interminável de curtos espirrinhos com barulhinho engraçado. Gente, aquilo é bom demais! Exalar os sentimentos! Aquilo é quase como uma paixão intrínseca que gente prescisa botar pra fora e, antes que você consiga pensar em evitá-lo, já foi! É rapido, completamente sensitível, é intenso, é poético..



... mas pode ser também uma rinite ou um resfriado.


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(Baseado em fatos reais)

_Atchin! Atchin! .. (30 milhões de vezes)

_Saúde! Mas você tá danada pra espirrar hein.. Assim vai acabar batendo um récorde!

_Hahaha.. aaa.. atchin! Desculpa! Deve ser esse ar condicionado que tá muito forte, e eu tenho rinite né, sei lá.. aaaaatchin.!

_Ih, eu sei como é que é.. minha irmã mais nova sofre disso também. Não pode o tempo mudar ou ficar em lugar que tenha muita poeira que quando começa não pára mais! Você toma algum remédio pra isso?

_Não.. quer dizer, as vezes, quando entro em crise mesmo, tomo um anti-alérgico, ou até mesmo uma coristina, o que estiver à mão serve. Fazia tempo que eu não espirrava assim..

_Deve tá com alergia a alguém dentro desse onibus.. hahaha.. Eu tive dengue ha pouco tempo, melhorei na semana passada, foi horrível..

_Imagino! Foi muito séria?? Nunca tive dengue, graças a Deus. Mas essa epidemia tá terrível.. muitos conhecidos meus tiveram ou estão com dengue..

_Séria foi, mas poderia ter sido pior. Não chegou a ser hemorrágica, foi a primeira vez que eu tive. Tomei soro e tudo! Ficar em casa de "folga" é que não chegou a ser ruim.. hahaha.. queria eu que tivesse sido por outros motivos, mas descansei pelo menos.

_Quem me dera se eles me dessem uns dias em casa por causa da minha rinite! ahahahaha..

(O homem que estava sentado ao lado dele levanta-se para dar lugar a ela se sentar).

_Pelo menos ela deu uma trégua! Acho que te curei, hein! auahaua...

_Eu sou Gisele.

_Rafael, prazer. Vai saltar aonde?

_Na São Clemente, perto do metrô, e você?

_Eu também vou ficar na São Clemente! Posso te acompanhar?

_Se eu não voltar a espirrar, será um prazer!


.. E viveram felizes, sem rinite e sem dengue, para sempre! :)

jeudi, mars 27, 2008

Passatempo.

Rapaaaz, tirei o dia pra fazer faxina!

Vassoura, pano, espanador, paciência. Até meu armário arrumei. Gaveta de calcinhas, blusas, shorts e saias. Casei cada par de meias certinho, pé com pé, e arrumei uma casa pra eles. Joguei tanta coisa fora! A papelada que já tinha vida própria e praticamente fazia comunidade alternativa num canto do meu quarto, foi toda organizada: útil, inútil; letras, RI; dá pra reaproveitar, vá já para o lixo. Arrumei as bolsas, os livros, as fotos. Até dancei um pouquinho. Isso aqui tava mesmo precisando de uma faxina. E me deu uma canseira! Fiquei suada! Até que..


...A internet finalmente voltou!


UFA! Pude parar de arrumar tudo só por passatempo! Joguei o que ainda não havia sido arrumado pra lá, sentei aqui e comecei a.. faxinar também (?)! Faxinei as fotos, as musicas, o bloco de notas..

E achei muita coisa interessante, que um dia escondi julgando ser lixo. Alguma delas, resolvi publicar aqui. Os textos abaixo são todos antigos. Não estranhe ao me ver falando de Ano novo e aniversário no mês de março, ou de antigos amores que nem eu lembrava mais o quão intensos haviam sido.

Não vá achando que tive um surto momentâneo de criatividade
e me destrambelhei a escrever.
Foi só falta do que fazer.

O principal (bem explicadinho).

Pouco importa quem eu fui (do verbo: não sou mais), não me interessa o que eu tinha (do verbo: foi passageiro e não durou), há coisas que ficam (do verbo: não foram - e jamais irão - embora) de cada suspiro que demos (do verbo: já deu e ainda vamos dar), de tudo o que a gente passa (do verbo: andar - e ainda vai passar), da marca que a gente deixa (do verbo: que marcam - e sempre deixará), e da cicatriz que a gente carrega (do verbo: sofrimento que levamos conosco a todo lugar), que valem mais do que qualquer coisa: são nossos PRINCIPIOS intraíveis que fazem de nós o que a gente realmente é.

Tão pequeninos, que nem sentimos eles entrarem em nossos corações.
Tão grandiosos, que nada jamais conseguirá passar por cima.

Acerto de contas.

Bom, chegou a hora. Senta ai, vamos colocar os pingos nos is, separar o que é de quem, esclarecer toda essa loucura. Seja franco, o que está acontecendo? Não, porque, na realidade, não há nada o que fingir, não há nada a esconder.. de pés no chão, nós dois sabemos muito bem que não há nada entre nós. Esse não-relacionamento que vai de brisa à ventania numa simples troca de olhares, é muito fluido, não dá pra pegar nas mãos. Cá entre nós, o que aqui é concreto?? A esta altura do campeonato, nem o chão onde piso - e perco quando voce chega - é. Não é real. Vamos, leve já o que é seu com você. Seu sorriso, seu olhar, o sol, e todas essas emoções que você trouxe debaixo do braço e me ofereceu em silêncio, que eu volto pra casa com as minhas desilusões, minhas decepções, e esse conto de fadas sem final feliz. Só mais uma histórinha, das minhas tantas, pra contar. Vamos, vamos logo desacreditar que essa seria a mais bonita. Vamos desacreditar em amor a primeira vista, vamos desacreditar no amor. Chega de conjugar o verbo no futuro do pretérito, o presente momento é esse, e é chuvoso. Vamos jurar por Deus que não foi maravilhoso, que não somos um só, que não nascemos um para o outro. Amanhã serão outras Anas, outras Marias, outras Paulas. Amanhã serão outros sorrisos bonitos, outras troca de olhares, outras surpresas, você não é a primeira nem a ultima vez que vou me apaixonar. Eu te inventei quando mais precisava, desinventarei sem maiores problemas. É isso, pode levantar. Você sabe onde é a porta da frente, por onde me invadiu, e é por lá que você deve sair, sem nem ter necessidade de leva-lo até lá. Pegue tudo isso e saia antes que minha lagrima caia na sua frente, ou que eu me arrependa de cada vogal dita até agora. Não vou falar mais nada.
Até mais. Ou até nunca mais.

Breve aparência.

Há quem viva de imagem.

Eu não. Eu vivo de algo mais, algo que nem todo mundo pode ver. Eu vivo de emoções, eu vivo de paixões, eu vivo de momentos. Vivo de erros e de acertos. Vivo apenas de tentativas. Numa eterna aventura errante onde cada segundo é unico, onde o passado não importa e o futuro não interessa. Vivo cada dia sem pressa, achando beleza até nas coisas que não parecem bonitas.

Há quem viva de imagem. tudo bem, eu respeito.

Só que ainda não aprendi a pintar quadros e fingir felicidade. E talvez nem deva aprender. Prefiro sair descabelada, mas demonstrar que aquele mafuá foi resultado de muita diversão. Prefiro deixar a lágrima escorrer do que engolir o choro, odeio sorriso amarelo. Eu vivo de algo mais do que imagens, ou do que os outros pensam de mim.
Eu vivo de emoções, paixões, momentos, onde cada segundo é unico, cada pessoa é especial, onde o passado não importa e o futuro não interessa. Eu sou o resultado da soma dos meus erros com os meus acertos, sem arrependimentos, tudo tem seu lado bom.
E sou sem vergonha mesmo.. não tenho vergonha de ser exatamente aquilo que eu sou, de sentir o que sinto, de pensar como penso, crer nas minhas crenças. E não acredito em nada que não venha do coração.

As fotos mais bonitas máquina nenhuma conseguiu captar, estão todas na minha cabeça. Porque ainda não inventaram câmera que fotografe além da sua tão breve aparência.

Mesmo assim ainda há quem penteie o cabelo pra tirar fotos..

O que vale mais?

Bem assim por acaso.

"Quantas vezes mais terei que retocar a maquiagem até você chegar?

Ás vezes eu olho embaixo da cama, atrás do armário, dentro da geladeira, nas gavetas da sala, quem sabe eu te encontro, no lugar certo, só pra ser mais feliz, bem assim por acaso...

Quantas vezes mais as estrelas cadentes vão me virar a cara negando um pedido? Às vezes eu rezo, acendo uma vela, faço uma prece, jogo minha fé pela janela, depois me arrependo, vou lá, pego de volta, toda molhada, estendo no varal, vento que seca, tempo que passa, e você, nada...

Quantas vezes mais vou duvidar da sua existência? Será que estás o tempo todo aqui, como um fantasma, a me acompanhar, sem que eu perceba, na minha cegueira, tua presença invisível, espalhada pela sala, espírito zombeteiro, acenando pra mim, e eu, nada...

Quantas vezes mais você vai gritar mesmo sabendo que eu não posso te ouvir? Canta uma música, gesticula, faz mímica, tenta qualquer coisa, eu preciso te ver, não desiste de mim, fica um pouco mais, toma um gole de café, puxa uma cadeira, olha umas fotos, acende um cigarro...

Quantas vezes mais terei que me desfazer para te encontrar? Eu ando pela casa, troco os moveis de lugar, mudo a cor do cabelo, jogo as fotos pela janela, depois me arrependo, vou lá, pego todas de volta, estendo no varal, amareladas, tempo que mancha, vento que passa, e você, quase posso te ver, em cada uma delas: perto de mim fazendo careta, sorrindo atrás de uma árvore, correndo por entre nuvens num dia de sol....

Quantas vezes mais terei que lembrar a mim mesma onde foi que eu guardei a minha felicidade? Às vezes eu assobio enquanto penduro a fé no varal, me olho no espelho enquanto você se esconde do tempo num porta-retrato, cativo o prazer dessa incessante busca, fecho os olhos aos acenos e continuo procurando, nos lugares errados, só pra ser mais infeliz, bem assim por acaso"...

(Maíra Viana)
Ando um tanto sumida.
Acontece que não estou aqui. É isso. Não sou eu, eu fui sequestrada, estou perdida em algum lugar muito, muito longe. Aqui quem vos escreve é o pouquinho que ainda resta de mim, mas não sou eu. A última vez que me viram, eu estava caminhando na praia. Foi numa tarde azul e gostosa, pintada à mão, dirigida minuciosamente, onde até o vento conspirava ao meu favor. Neste cenário, ví um sorriso. Desde então, nem eu me vejo mais. Quiçá me reconheço. Faz tempo que não me encontro. Me perdi naquele sorriso, e aquele sorriso, ainda que sem querer, me levou pra longe, bem longe, tão longe que não sei aonde. Nem sei se pretendo voltar. Mas ofereço recompensa e estou disposta a pôr a polícia atrás daquele sorriso. Se alguem descobrir a quem pertence, dou uma flor, assim que eu for resgatada. Se eu for resgatada.
Vejo uma ligação sua no meu celular, às quatro da madrugada. Ligo de volta assim que acordo, e você diz que foi engano. E desestabiliza meu dia inteiro. Mas me deixa sorrindo até pro sinal fechado.
ps: Diga que foi de propósito da proxima vez, que só queria ouvir minha voz e não me deixar dormir, pelo menos.

Já nasci com asas.

"Já nasci com asas.
Não que eu seja um anjo, ou coisa parecida.
Nasci com asas de pássaro.
Aqueles em especial, que parece que já nasceram voando.
Aqueles que em seu primeiro voou, já mostram seu dom.
Tem gente que não entende essa minha mania de sumir, desaparecer e deixar saudade.
Não entendem que é só uma maneira minha de ser livre.
Quem quer ser livre não pode se apegar a nada, nem ninguém.
Mas isso não significa que eu não ame.
Nunca voei muito longe do meu ninho.
Sou dos pássaros “sazonais”.
Aqueles que vão pra bem longe ficam um bom tempo, mas voltam.
Tenho um objetivo maior na vida: ser plenamente livre.
Meu lugar é um que não se encontra nos lugares que até hoje pisei.
Mas não se preocupe, como uma tartaruga marinha eu volto, e vou de novo.
E nunca deixo de amar os que ficam."

"A pior vontade de viver"

"Todos são compreensivos, aceitam tão bem suas escolhas, torcem por tudo que você faz, não é mesmo? Desde que você faça o que está no script. Que siga o que foi determinado no roteiro, aquele que foi escrito sabe-se lá por quem e homologado no instante em que você nasceu. Mas e quem não quiser seguir esse script?

(...) andei relendo algumas das obras de Clarice Lispector (que completa 30 anos de falecimento em dezembro), e encontrei no conto "Amor", do livro "Laços de Família", uma de minhas frases prediletas. Assim ela descreve o sentimento da personagem Ana: "Seu coração enchera-se com a pior vontade de viver".

Ela é complexa, angustiante, subjetiva e intensa. Ela, "a pior vontade". A vontade que não está disposta a negociar com a vontade dos outros.

No entanto, esta que foi chamada de "pior" vontade pode ser também uma vontade genuína e inocente. É a vontade da criança que ainda levamos dentro, entranhada. É o desejo de açúcar, de traquinagem, de fazer algo escondido, de quebrar algumas regras, de imitar os adultos. A "pior" vontade é curiosa, quer observar pelo buraco da fechadura e depois, mais ousadamente, abrir a porta e entrar no quarto proibido.

A "pior" vontade é a de não se enraizar, não assinar contrato de exclusividade, não firmar compromisso, não se render às vontades fixas, apenas as vontades momentaneas, porque as fixas correm o risco de deixar de serem vontade para se tornar vaidade - como se sabe, há sempre aqueles que se envaidecem da própria persistencia.

A "pior" vontade não quer ganhar medalha de honra ao mérito, não quer posar para fotografias, nao quer completar bodas de ouro nem ser jubilada. A "pior" vontade não faz a menor questão de ser percebida, ela quer ser realizada. É quando você sabe que não deveria, mas vai. Sabe que não será fácil, mas enfrenta. Sabe que tomarão como agressão, mas arrisca. Aqui, cabe lembrar? apenas se sentem agredidos aqueles que te invejam.

A vontade oficial, a vontade santinha, a que não causa incômodo, é a outra, a aprovada pela sociedade, a que não leva em conta o seu íntimo, e sim a opinião publica. É a vontade que todos nós, de certa forma, temos de mostrar para os outros que somos felizes, sem saber que para conseguir isso é preciso, antes, ter a "pior" vontade, aquela que faz você descobrir que ser feliz é ter consiencia do efêmero, é saber-se capaz de agarrar o instante, é lidar bem com o que não é definitivo - ou seja, TUDO. É com esta "pior" vontade de viver que você atrai os outros, que seu magnetismo cresce, que seu rosto rejuvenesce e que você fica mais interessante.

É uma pena que nem todos tenham a sorte de deixar vir a tona esta que Clarice Lispector chamou de "a pior vontade de viver", e que, secretamente, é a melhor".

(por Martha Medeiros, dia 26/08/07 na Revista O
Globo)

Adoro aniversário. Não todos. Na verdade, adoro o dia do MEU aniversário. Sempre gostei. Egoísta? Talvez.. Mas acho muito interessante lembrar do dia em que você nasceu, coisa que, diga-se de passagem, você não vai lembrar nem querendo MUITO.
Parabéns pra mim!

Me deixa feliz.

Ouvir musica boa de manhã, mesmo que eu tenha acordado cedo e de mau humor, me deixa feliz.
Um dia de sol, mesmo que eu não vá à praia, me deixa feliz.
Um dia de chuva, até mesmo de temporal, me deixa feliz.sair pra dançar, mesmo que eu fique de cara a noite toda, me deixa feliz.
Inventar apelidos, falar babaquice, fazer palhaçada, mesmo que as vezes eu pareça ridicula, me deixa feliz.
Passar uma tarde inteira com os amigos, mesmo que a gente não faça nada, me deixa feliz.
Chegar em casa segura depois de um dia cansativo, ver meus pais e meu irmão, mesmo que viva brigando com eles, me deixa feliz.
Deitar na minha cama e ficar olhando pra janela, mesmo que eu não durma direito, me deixa feliz. morreeeer de rir, mesmo que seja atoa, me deixa feliz.
Ver que as pessoas ao meu redor estão bem, me deixa feliz.
Poder ajudar alguem, mesmo que eu apenas aconselhe ou de um colo, mesmo que a 'esmola' não seja grande, me deixa feliz.
Saber que ainda existem pessoas boas no mundo, mesmo o mundo estando do jeito que está, me deixa feliz.

Detalhezinhos, como um olhar e um sorriso, pequenos gestos, por menores que sejam, me deixam feliz. aprendi com a vida a diminuir o passo apressado quando passar por um jardim e a nunca deixar de sorrir para o porteiro.
Porque tem coisas para as quais a gente estipula preço, mas a felicidade simples não tem preço se soubermos dar valor.

"Minha vergonha na cara, reafirmo, perdi faz tempo. mas só perdi para ganhar coisas mais importantes e valiosas".. Sou cheia delas.
E me deixam muito feliz sim, obrigada.
"_Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
_Você é louco?
_Não, sou poeta".
(Mário Quintana)

"e vamos ver se no ano de 2008 você terá tempo de sentir saudades"

Tem nem dois minutos que Zeca Camargo terminou o ultimo "Fantástico" do ano de 2007 com essa frase.

Eu tinha prometido pra mim mesma que, ao invés de fazer pirraça contra as resoluções de ano novo, este ano eu não faria é a retrospectiva. Mas ao ouvir essa frase, não tive como não pensar em tudo que passei neste ano que passou.

Não falemos mais de passado, não quero nem me esforçar pra falar deste ano que se foi, mas se eu pudesse escolher uma palavra pra sintetizar tudo, eu diria "Saudade". Este é o resumo do ano.

2007 não foi um ano do qual eu sentiria saudade, foi o ano da saudade. Amigos, amores, entes queridos, hábitos, momentos, tive que dizer muito "Adeus". "Adeuses" molhados de lágrimas, cobertos de emoção, de amor ou raiva. Foi tanto "Adeus" que mal tive tempo de dar "bom dia" às coisas novas. Foram tantas perdas que cheguei até a esquecer a minha tão confortável consciencia do efêmero, como se eu tivesse tomado um porre e acordasse no dia seguinte com a memória vazia, e um peso enorme na cabeça.

Serviu pra olhar pra dentro, arrumar a casa, colocar pingos nos is e as coisas no lugar. Ainda assim, doeu (e muito) ter que passar por esse ano. Foi a dor do crescimento. Entendi que não tenho mais 15, nem 14 anos, e também estou muito longe dos 60. No ano da saudade, perdi um tantinho de tudo. Perdi desde a minha tia até meu celular. Perdi melhores amigas, bons amantes, perdi a hora, a cabeça e a razão.

Mas, passado a ressaca, parece que meu ano novo já começou. Sei lá, mas acho que foi bom. Aumentei minha fé e minha esperança, me tornei mais paciente, menos tolerante com coisas que eu não deveria ser jamais tolerante, e aprendi, além de gostar mais de mim, a gostar mais das pessoas que gostam de mim de verdade. Usei aquela saudade acumulada nestes ultimos 365 dias como gasolina para os próximos, e para relembrar que tudo na vida passa, e não dá pra, no meio desse vai-e-vem enjoativo, pedir pro barco parar. Não falemos mais de passado. O hoje é muito mais interessante e válido. Fecho mais um capítulo assim: as lições de vida ficam comigo, o resto fica pra trás, e prefiro nem lembrar mais.

E vamos ver se no ano de 2008 eu terei tempo de sentir saudades.

Quanto ao fim da CPMF, ao Pan 2007, o IPCC ou o São Paulo campeão, é, eu lembro, foi em 2007.
Devo ser mesmo uma pessoa muito atrasada, com valores ultrapassados. Tenho sonhos que despedaçam em milhares de caquinhos de ilusão, como se fosse frágil. Devo ser frágil. A roupa de menina forte já não cabe mais em mim, devo ter engordado, ou já sou grande o suficiente a ponto de não precisar mais me esconder dos meus medos e dos meus sentimentos. Sinceridade fragiliza. Devo ser uma grande pessoa, por não caber mais em mim. Tenho uma necessidade estranha de estar dividindo, transmitindo, extravasando as coisas. Necessidade de multidão, embora a solidão já seja uma das minhas melhores amigas.

Um bilhete para uma amiga.

É, amiga.. não acredito em quase nada que não venha do coração.
Razão? Ela sabe muito pouco, isso sim! Nós, com todas as nossas preocupações, pensamos demais antes de dar um ou dois passos - que, de tanto pensar, acabam sendo mal dados - por isso sou fã de carteirinha e adepta a tudo que vem do fundo.. assim como seu amor por ele, assim como minha amizade por você, assim como tudo que penso hoje.
Paixão, por mais que seja errada, é pura, é simples, é poderosa, move mundos. É pura porque paixão a qualquer coisa, ou a qualquer pessoa, vem de um só lugar, e faz o coração bater aflitamente mais rápido. E quanto mais a gente corre pra se esconder dela, mais ela da sinal de vida dentro de nós. Sem saber, deixamos ela transbordar pelos olhos, secar nossa boca. A respiração ofegante, o frio na barriga e o nervosismo nos entregam quase que inconscientemente, até os gestos mais banais são a comprovação disso.
No fundo no fundo, não queremos esquecer, e damos graças a deus por não seguirmos com o coração vazio.
Sofrer faz parte, independente da sua escolha. Sofre-se até se escolhermos por não sofrer mais. Qualquer SIM é um NÃO para uma outra coisa, não há escapatória.
Eu, pelo menos, acredito que não tenha nascido pra ser feliz de fato, nasci mesmo é pra viver e me doar a cada coisa que a vida me proporciona. Se, no momento, ela quer que seja assim, eu tenho mais é que viver desse jeito. Daqui a pouco acontecerão coisas maravilhosas, eu vou lembrar tudo que já passei e vou rir da vida.
É, amiga.. vou na direção aonde meu coração bata mais forte! Minha paz tá dentro de mim, e não nos outros. Parei de procurar. Viver se jogando dá a impressão de que cada dia é o meu melhor dia, cada amor é pra sempre e será sempre o maior da minha vida.

mercredi, février 20, 2008

Está um dia lindo hoje.

É tão estranho pensar nas voltas que a vida dá.. Sejam elas rodopios rápidos e intensos, ou lentos movimentos de criança dançando ciranda ao som de um passarinho qualquer.

Eu tava lá fora fumando um cigarro, num canto escondido - é o teto do auditório Turcker (aqui no Bennett é expressamente proibido fumar cigarros) -, olhando a fumaça branca que sem pressa saia da ponta do cigarro e subia muito bonita ao céu, como se fosse nuvem. Olhando no céu uma nuvem branca que, sem pressa, ia flutuando levinha, como se fosse fumaça. Está um dia lindo hoje. Tem sol forte e um vento gostoso. Olhava a goteira do ar condicionado que me lembrou a chuva que de certo vai cair mais tarde. E me senti besta. Bela e muito besta.

Um desses giros, dessa dança estranha da vida, me trouxe de volta cenas que eu tinha guardado sabe-se lá onde, bem no fundo da minha memória. Nada que me fizesse chorar, nenhum fato em especial: um recreio de oitava série ou primeiro ano no Centrão. Meus olhos marejaram.

O Centrão era um lugar mágico, um espaço à parte no centro de Niterói. O Centrão era a minha melhor escola do mundo, depois do Centrinho. No Centrão havia esculturas no meio do jardim, um pátio grande, coberto, suas pilastras de ferro pretas. Uma quadra poliesportiva, um cantinho de areia com redes de volei, as partes-de-fora das janelas das salas, uma laje em cima da guarita da portaria, que dava medo de subir. O moço que vendia seus sanduiches através da grade do portão da frente ("frangomilhobatataecenoura, saladadeovos, baguetedequeijoepresunto, com guaravita é 2 reais"), tinha também o Will, o baleiro (a quem devo uns trocados até hoje) que jogava chicletes e pirulitos pelo muro, e nós jogavamos o dinheiro, que espatifava no meio da Amaral Peixoto. A cantina com coca-cola era o máximo! As escadas, os esconderijos, a partezinha lá de tras que dava no laboratório de informatica e tantas outras passagens "secretas". Os laboratórios de ciência, as salas de arte, o teatro: meus favoritos. A parede pintada com o Alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado (não sei nem se era essa a intenção deles, mas, desde pequena, aquela parede me lembrava essa canção; acabei batizando-a assim).

Não sei por que, mas todos os dias do Centrão eram dias de sol com vento, como hoje. Na minha memória, só eles ficaram marcados. Até quando chovia, e chovia forte, era tudo tão claro e iluminado que parecia dia de sol. Eu lembro até do cheiro! Ver as fotos que vi, de outras pessoas que não eram eu, não eram da minha época e nem estudavam lá, felizes, fazendo arte, sorrindo e cantando aonde eu sorria e cantava todos os dias, me fez chorar. Chorei igual uma criança, em frente ao computador. Nunca tirei nenhuma foto que me remetesse a essas lembranças, na minha época de estudante lá. Mas fechei os olhos bem forte, e foi como se há dois minutos atrás eu estivesse no recreio, naquele pátio com pilastras pretas, na aula de artes, não querendo que desse 15:30, porque eu ia ter que ir embora.

Depois de ver as tais fotos que vi por acaso, eu fui lá fora fumar meu cigarro escondida. E está um dia lindo hoje! Um dia de oitava série no Centrão em pleno 3º ano de faculdade no Bennett. O vento me fazia cócegas, e na copa das árvores daqui também, igualzinho lá. O bambuzal daqui fez o barulho igualzinho ao que de lá fazia. Aquela fumaça bonita subindo, o vento querendo secar minhas lágrimas, e eu querendo molhar meu rosto mais e mais, de tanta emoção. O choro é tão necessário quanto a risada, quando se está feliz. Assim como o sorriso é tão necessário a tristeza, quando se está triste. Emoção nunca escolhe como vai vir à tona, e se emocionar com tão pouco não é mais pra todo mundo. A saudade bonita que eu senti foi bem forte e, imagino eu, daqui a uns anos, chorando de saudades daqui. Saudade não é dor, é o prazer de saber que se teve momentos bem vividos e inigualáveis. Comparáveis, talvez, mas nada que jamais possa ser igual.

É tão estranho pensar nas voltas que a vida dá.. Mas é assim. A vida gira e roda sem percebermos e sem nos deixar tontos. Vale a pena ter dias tão lindos como estes, aonde a gente se sente belo e muuuito besta por coisa alguma - nem que seja apenas pra chorá-los depois.

Sei lá por que, mas estou feliz sem motivo algum. E, eu juro, está um dia especialmente lindo hoje.

dimanche, janvier 13, 2008

A língua que todo mundo entende.

Lapa, num sábado qualquer. Das seis da tarde às seis da manhã, depois da terceira ou quarta caipirinha, o que estava planejado para a noite é o que menos importa. Assim como já não interessa seu nome ou, muito menos, de onde você veio.

Seus encantos vão além dos blocos de rua ou da cerveja a um real no depósito, o que enche os olhos de qualquer um na Lapa não é a variedade de programações para todos os gostos, e sim a variedade de pessoas (para todos os gostos). Gente de toda cor, toda raça, toda fé, e de todos os cantos do mundo, mas todo mundo, de um jeito ou de outro, se entende.

Ela é bem brasileira. Niteroiense, para ser mais exata. Seus anos de estudante de francês na faculdade de Letras mal deixaram espaço para sua cabeça lembrar-se do inglês que aprendeu na escola. Seu apetite pela arte e pela novidade ia sendo levemente saciado a cada olhar para os lados que seus olhos davam, como se fosse a primeira vez naquele lugar. Àquela altura do campeonato, já tinham sido as treze ou catorze caipirinhas das quais eu tinha mencionado, já havia rido e dançado de tudo, já tinha visto trezentas ou quatrocentas pessoas curiosamente interessantes e conversado com, pelo menos, metade delas. A noite não podia e não merecia acabar logo.

Ele é bem gringo, e sabe lá Deus o que ele fazia sozinho na Lapa, num sábado qualquer. Norueguês, para ser mais exata. Sua alta estatura, olhos azuis, o cabelo loiro e a pele muito clara não deixava ninguém duvidar. Ele não fala uma palavra se quer em português. A propósito: nem espanhol, nem francês, nem italiano, nem língua do i, só ingles. Um ingles bêbado, cansado, mas com uma entonação que passava a mensagem de que a noite não podia e não merecia acabar logo.

Ela dançava. Ele chegou, bastante desengonçado. O funk, naquele momento, fez papel de sino e harpa que tocam ao fundo quando se conhece alguem especial. Eles se olharam. Ela sorriu. Ele sorriu. Continuaram se olhando um bom tempo. De longe, não dava pra ver direito, mas o que se percebeu quando os dois tentaram começar um diálogo foi uma sucessão de "hããã"s e "que?"s e gestos e expressões, que não mentiam: não tava dando pra comunicar mesmo porra nenhuma.

Eles tomaram uma cerveja, riram e se beijaram a noite inteira. Se entenderam muito bem.

Lapa, num sabado qualquer. Não sei se curiosamente interessante ou interessantemente curiso. Àquela altura do campeonato, trezentas ou quatrocentas caipirinhas. Já não entendia nem mais o portugês. Mas lá, de um jeito ou de outro, todos se entenderam muito bem.