mercredi, février 20, 2008

Está um dia lindo hoje.

É tão estranho pensar nas voltas que a vida dá.. Sejam elas rodopios rápidos e intensos, ou lentos movimentos de criança dançando ciranda ao som de um passarinho qualquer.

Eu tava lá fora fumando um cigarro, num canto escondido - é o teto do auditório Turcker (aqui no Bennett é expressamente proibido fumar cigarros) -, olhando a fumaça branca que sem pressa saia da ponta do cigarro e subia muito bonita ao céu, como se fosse nuvem. Olhando no céu uma nuvem branca que, sem pressa, ia flutuando levinha, como se fosse fumaça. Está um dia lindo hoje. Tem sol forte e um vento gostoso. Olhava a goteira do ar condicionado que me lembrou a chuva que de certo vai cair mais tarde. E me senti besta. Bela e muito besta.

Um desses giros, dessa dança estranha da vida, me trouxe de volta cenas que eu tinha guardado sabe-se lá onde, bem no fundo da minha memória. Nada que me fizesse chorar, nenhum fato em especial: um recreio de oitava série ou primeiro ano no Centrão. Meus olhos marejaram.

O Centrão era um lugar mágico, um espaço à parte no centro de Niterói. O Centrão era a minha melhor escola do mundo, depois do Centrinho. No Centrão havia esculturas no meio do jardim, um pátio grande, coberto, suas pilastras de ferro pretas. Uma quadra poliesportiva, um cantinho de areia com redes de volei, as partes-de-fora das janelas das salas, uma laje em cima da guarita da portaria, que dava medo de subir. O moço que vendia seus sanduiches através da grade do portão da frente ("frangomilhobatataecenoura, saladadeovos, baguetedequeijoepresunto, com guaravita é 2 reais"), tinha também o Will, o baleiro (a quem devo uns trocados até hoje) que jogava chicletes e pirulitos pelo muro, e nós jogavamos o dinheiro, que espatifava no meio da Amaral Peixoto. A cantina com coca-cola era o máximo! As escadas, os esconderijos, a partezinha lá de tras que dava no laboratório de informatica e tantas outras passagens "secretas". Os laboratórios de ciência, as salas de arte, o teatro: meus favoritos. A parede pintada com o Alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado (não sei nem se era essa a intenção deles, mas, desde pequena, aquela parede me lembrava essa canção; acabei batizando-a assim).

Não sei por que, mas todos os dias do Centrão eram dias de sol com vento, como hoje. Na minha memória, só eles ficaram marcados. Até quando chovia, e chovia forte, era tudo tão claro e iluminado que parecia dia de sol. Eu lembro até do cheiro! Ver as fotos que vi, de outras pessoas que não eram eu, não eram da minha época e nem estudavam lá, felizes, fazendo arte, sorrindo e cantando aonde eu sorria e cantava todos os dias, me fez chorar. Chorei igual uma criança, em frente ao computador. Nunca tirei nenhuma foto que me remetesse a essas lembranças, na minha época de estudante lá. Mas fechei os olhos bem forte, e foi como se há dois minutos atrás eu estivesse no recreio, naquele pátio com pilastras pretas, na aula de artes, não querendo que desse 15:30, porque eu ia ter que ir embora.

Depois de ver as tais fotos que vi por acaso, eu fui lá fora fumar meu cigarro escondida. E está um dia lindo hoje! Um dia de oitava série no Centrão em pleno 3º ano de faculdade no Bennett. O vento me fazia cócegas, e na copa das árvores daqui também, igualzinho lá. O bambuzal daqui fez o barulho igualzinho ao que de lá fazia. Aquela fumaça bonita subindo, o vento querendo secar minhas lágrimas, e eu querendo molhar meu rosto mais e mais, de tanta emoção. O choro é tão necessário quanto a risada, quando se está feliz. Assim como o sorriso é tão necessário a tristeza, quando se está triste. Emoção nunca escolhe como vai vir à tona, e se emocionar com tão pouco não é mais pra todo mundo. A saudade bonita que eu senti foi bem forte e, imagino eu, daqui a uns anos, chorando de saudades daqui. Saudade não é dor, é o prazer de saber que se teve momentos bem vividos e inigualáveis. Comparáveis, talvez, mas nada que jamais possa ser igual.

É tão estranho pensar nas voltas que a vida dá.. Mas é assim. A vida gira e roda sem percebermos e sem nos deixar tontos. Vale a pena ter dias tão lindos como estes, aonde a gente se sente belo e muuuito besta por coisa alguma - nem que seja apenas pra chorá-los depois.

Sei lá por que, mas estou feliz sem motivo algum. E, eu juro, está um dia especialmente lindo hoje.